quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

A falácia da Balança Comercial

É um tema recorrente, e o Diário Económico voltou com ele à carga recentemente. Foi igualmente utilizado na peixeirada pelo Carlos Pimenta. É a ideia de que as energias renováveis contribuem para diminuir o défice da balança comercial, por se evitar a importação de combustíveis. O artigo do DE é tão tendencioso que termina com um "só assim será possível continuar a diminuir a dependência e a factura energéticas do País."

Nada de mais errado! Para o exemplificar, peguemos num dos melhores exemplos da demagogia verde: a central da Amareleja. Os verdes adoram-na, esquecendo-se que, por exemplo, para a construção desta central foi autorizado o abate de 414 azinheiras adultas e 319 jovens. A central da Amareleja tem uma potência instalada de 45.78MW, correspondente a 2520 painéis. Era suposto produzir 93 GWh por ano, mas em 2010, a central produziu apenas 88 GWh, dos quais 61 corresponderam à Acciona, e os restantes à Mitsubishi. Tudo isto porque a Mitsubishi tem uma participação de 34.4%.

Quanto é o valor pago pela energia da Amareleja continua a ser um segredo bem guardado! O valor dado neste documento da Assembleia Municipal de Moura continua a ser o valor mais fidedigno que encontrei até hoje, de 0.317€ por kWh.

O confronto com outros valores denota que o valor é provavelmente mais elevado. Segundo este documento da ERSE, em 2010 produziram-se 166.5 GWh de origem fotovoltaica. Tal revela que a central da Amareleja foi responsável por quase 53% desse total. Segundo o mesmo documento da ERSE, o preço de referência do mercado regulado foi em 2010 de 39.20 €/MWh, enquanto o preço médio da energia fotovoltaica foi de 329.80 €/MWh.

Considerando apenas o caso da Amareleja, e uma produção de 88 GWh em 2010, as contas são fáceis de fazer: se não existisse central fotovoltaica, teríamos que comprar 88 GWh a 39.20 €/MWh, o que dá um custo de 3.450 milhões de euros. Note-se que este é o custo da energia, e não dos combustíveis importados... Enquanto isso, para produzir os mesmos 88 GWh, e considerando o custo de 317 €/MWh, pagou-se aos donos da central da Amareleja cerca de 27.896 milhões de euros! Mas, se se utilizar o valor médio da ERSE, então o valor sobe para 29.022 milhões de euros. Este último valor está muito mais próximo dos 29.975 milhões de euros inscritos nas contas anuais da Acciona, relativamente à sua participada "Amper Central Solar Moura, S.A.".

Resumindo, para evitarmos pagar menos de 3.45 milhões de euros a estrangeiros, entregamos 29.022 milhões de euros a estrangeiros, neste caso à Acciona e Mitsubishi. Noutros projectos é a mesma coisa, e se não é a empresas estrangeiras, é para o serviço da dívida. E este ano a história é semelhante, embora o custo do preço de referência do mercado regulado tenha subido de 39.20 €/MWh para 51.84 €/MWh. Como é que isto beneficia a nossa balança comercial, ultrapassa-me...